Um
novo ano, mais uma vez ficaria sozinha, a timidez sempre me atrapalhou para
fazer amizades, e as mudanças repentinas também. Meu pai, um homem de negócios,
sempre viajando a trabalho, presente para os sócios e ausente para a família.
Minha mãe, chefe dos bombeiros, salva vidas de desconhecidos e não me viu
pedindo por socorro. Sempre me virei sozinha, a solidão já era de casa, mas
tudo bem, estou à vontade.
As
aulas começarão amanhã e eu não espero algo de interessante, sempre que me
apego a um lugar ou alguém eu me mudo, o trabalho de minha mãe é puxado e ela
sempre muda de unidade. Lembro-me da última vez que me apeguei a pessoas, sinto
saudade, infelizmente não posso mais abraçá-los.
Há
dois anos eu tinha amigos, a gente se dava bem, costumávamos ir a uma praça
cheia de árvores e a primavera lá era linda. O chão se enchia de flores e o
pôr-do-sol visto de lá era encantador, aliás tudo lá era encantador.
Meus
amigos e eu íamos a um passeio de ônibus municipal mesmo, a cidade ao lado ia
fazer um festival e queríamos muito ir. O caminho durava apenas uma hora, mas
eu sentia que o caminho duraria menos, tudo bem era apenas uma sensação. Já
estávamos a meia hora no ônibus, o tempo passou rápido, a conversa nos distraia
bastante e em meio as risadas o ônibus virou bruscamente em uma curva, eu não
sei ao certo, mas ele capotou, deu muitas voltas, via tudo girando, meus amigos
gritavam, pediam socorro e choravam, imaginei nosso fim ali mesmo. Depois da
capotada eu abri meus olhos, eles estavam cheios de ferimentos e machucados,
tentei perguntar se estavam bem, não recebi resposta, ao tentar levantar caí,
minhas pernas estavam bambas, fechei meus olhos e ao fundo ouvi as sirenes,
minha última lembrança deles.
Acordei
no hospital, minha mãe me resgatou. Ao perguntar dos meus amigos, ela apenas
abaixou a cabeça e disse que ninguém daquele ônibus sobreviveu, apenas eu.
Naquele momento meu coração se entristeceu, tentei ser forte, mas as lágrimas
saíram sem pedir permissão.
Depois
da morte deles eu não consegui fazer amigos, a palavra “amigos” me fazia
chorar, eu não me aguentava, para acabar com esse sentimento ruim, me proibi de
fazer amizade e a timidez tomou conta de mim.
Enfim,
o dia amanheceu e eu fui para a escola, precisava garantir meu futuro. Primeira
aula, evitei falar com as pessoas, mas não fui mal-educada. Umas meninas vieram
falar comigo, eu particularmente não gostei muito até porque percebi que me
daria bem com elas.
Os
dias se passaram, e eu conversei bastante com as meninas, me apeguei, todo o
meu esforço para me afastar foi em vão. Annabeth, Natália e Beatrice se
tornaram ótimas amigas em muito pouco tempo, contei minha história achando que
nos afastaria, só que apenas nos aproximamos mais, fiquei feliz.
Em
um fim de semana qualquer, eu as convidei para ir a um lugar especial, aquela
praça do pôr-do-sol encantador, sim eu tinha voltado para a cidade de meus
falecidos amigos. Depois de conhecê-las eu não fiquei mais triste de lembrar de
lá, porque eu entendi que assim como as flores murcham e suas pétalas caem, as
pessoas se vão e nos deixam lembranças boas.
Aquela
praça, era época de primavera, as pétalas estavam no chão, lindas como sempre.
Decidi viver minha vida feliz e sem mágoa, pois se eu estou feliz tudo em volta
também fica, eu atraio o que transmito.
A
minha relação com a minha mãe melhorou desde que comecei a pensar desse jeito,
agora tudo estava bem e eu mesma consegui transformar minha história de
tristeza para alegria. Sou eu que escrevo minha própria história.
Mayara Ueda Massatoshi
1º A