Uma única
flor, uma única menina, florescendo nas trevas. Um triste e solitário botão de
lírio, uma jovem adolescente que não esperava nada da vida, sua única motivação
eram os lírios, flores que originavam seu nome, Yuri, sua única esperança em
relação ao inferno em que vivia.
A jovem morava
com seus pais adotivos, sem nenhuma conversa, nenhum carinho, sem nenhum amor,
apenas brigas e gritos, era quase como uma escrava. Seus únicos dias “livres”
eram os finais de semana, seus pais viajavam e a deixavam sozinha, fazendo
todas as tarefas da casa, era seu tempo de paz... mesmo que eles a agredissem
todas as sextas.
Os pais
biológicos de Yuri morreram num assassinato muito brutal, então devido ao
trauma, ela que tinha apenas cinco anos se esqueceu de quase tudo, o resto foi
guardado no fundo de suas lembranças. Ela foi levada para um orfanato, onde
sofria bullying das crianças mais velhas por tentar proteger as mais novas, ela
ficou lá até os nove anos.
Quando ela foi
adotada, sua nova mãe estava grávida, desde o dia que chegou lá era tratada
como escrava. Então, uma vez, apenas uma vez, ela tentou contrariá-los, ela
apanhou tanto que não pôde ir à escola por duas semanas, suas refeições foram
cortadas e sua mãe ficou tão nervosa que perdeu o bebê, o que fez com que eles
brigassem ainda mais com a menina e assim ela passou a nunca mais contrariar os
pais, mesmo que não parasse as agressões.
Ela passou
três anos, apenas obedecendo, até que que sua mãe finalmente conseguiu ter uma
filha, Margareth, mas quem realmente cuidava era Yuri, trocava as fraldas, dava
banho, acordava de noite para cuidar dela etc., consequentemente elas ficaram
muito ligadas, os pais a tratavam bem, pois era do sangue deles, mas o
tratamento de Yuri continuava o mesmo, mas não a agrediam na frente da filha.
Um pouco antes
de Margareth completar quatro anos, ela desapareceu, ninguém sabia o que havia
acontecido, ou fingiam que não sabiam, e como de costume os pais descontaram a
raiva em Yuri, ela apanhou tanto que decidiu fugir de casa, já não aguentava
mais.
O que eles não
sabiam é que em uma noite, o pai chegou bêbado e ouviu a pequena Margareth
tentando abrir a geladeira para pegar um copo de leite, o pai bêbado pegou a
menina e levou-a para a floresta e agrediu, ela era frágil e não resistiu a
tais agressões. O pai um pouco assustado e sem saber o que fazer enterrou a
filha lá mesmo, e voltou para casa como se nada tivesse acontecido. No dia
seguinte, suas memórias estavam confusas graças a bebida e ele culpou Yuri.
Na calada da
noite, Yuri juntou suas poucas coisas, pegou um pouco de dinheiro e comida e
saiu vagando sozinha pela cidade, pensando na irmãzinha, passando por ruelas
escuras e vazias, ainda com as dores e os hematomas da última agressão...
Ela tinha
muito medo do que poderia acontecer se os seus pais a encontrassem, por isso
nunca tentou fugir, mas agora era diferente, naquela casa só haviam
ressentimentos e medos, então ela simplesmente correu, correu sem olhar para
trás, sem rumo, era como se o mundo tivesse parado, tudo que ela ouvia eram
seus passos e sua respiração ofegante... A brisa noturna batia em seu rosto e
fazia as suas lágrimas voarem, e uma linda lua cheia observava sua partida.
Andou até o
amanhecer, pensando na reação de seus pais quando percebessem que ela fugiu,
quando vissem que tudo que eles fizeram foi errado, mas naquele momento o único
sentimento que nascia em seu peito era o medo, então ela pôs-se a correr
novamente, para um lugar onde ninguém a conhecesse, onde ela pudesse recomeçar,
mas como recomeçaria? Onde ia arranjar dinheiro? E os estudos? Quando ela
pensou em todas as dificuldades parou de correr, suas pernas tremiam e a
insegurança batia.
Uma chuva
repentina fez com que ela se abrigasse embaixo de uma ponte, não era tão
estranho que chovesse naquela época, era uma chuva de verão. Horas mais tarde,
a chuva ainda continuava, a menina cansada de esperar saiu, levando toda sua
insegurança, entrou na chuva fria, ela já não sabia se o que escorria em seu
rosto eram gotas de chuva ou suas próprias lágrimas.
Andou mais um
pouco, sentiu seu corpo ficar pesado e de repente desmaiou, após andar na chuva
forte sem guarda-chuva e não ter se alimentado corretamente ela pegou um
resfriado, ela ardia em febre, sofrendo sozinha e longe de “casa”. Até que uma
família que passava por ali socorreu-a.
Eles a levaram
para casa e cuidaram dela, até que ela recobrou a consciência, no começo ela
ficou assustada, afinal era a primeira vez que a tratavam tão gentilmente, mas
ela foi se acostumando, e antes que ela pudesse perceber eles eram como uma
verdadeira família. Ela se sentia realmente feliz.
Essa família
tinha uma floricultura, Yuri sempre teve interesse em flores e adorava ajudar
no serviço, até que um dia seus pais adotivos apareceram, ela não fez nada além
de correr, ela iria voltar ao inferno de antes se não fugisse. Enquanto corria
ela perguntava-se como foi encontrada, eles vinham logo atrás gritando seu
nome, então Yuri pensou:
“Prefiro
morrer agora que ainda estou feliz! Vou mostrá-los o meu fim, e assim eles
nunca se esquecerão de mim! ”
Correu em
direção ao caminhão que vinha pela rodovia e então o botão de lírio que nem
abriu já murchou e caiu.
Lilian Yuki Nagayassu 1º ano A
(Professora Márcia Bonani)
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